19.12.15

A harmonia na jornada do deus da Guerra

A ideia de caminho como desenvolvimento humano permeia a cultura oriental através do conceito de do. Mas caminho como jornada evolutiva é também um aspecto do Tarot. A abordagem da simbologia do tarot feita por Liz Greene e Juliet Sharman-Burke me parece especialmente interessante, sobretudo porque passa por um viés psicológico.

Se a abordagem das artes marciais que fazemos no Tatamito (espaço dedicado à transformação pessoal) se justifica sobretudo por uma possibilidade metafórica de compreensão dos conflitos e dilemas humanos, nessa leitura do Tarot, temos alguma aproximação em relação a esse entendimento também.

O termo artes marciais deriva de Marte, deus romano da guerra. O equivalente grego deste deus pode ser considerado Ares. O deus da guerra grego era filho de Hera e foi concebido sem a semente masculina. Ares pode ser considerado o oposto de Atena, símbolo de estratégia e coragem refletida. Ares sempre foi associado a conflitos, força bruta e falta de refinamento.

Ares apaixonou-se por Afrodite, que era casada com o deus-ferreiro Hefesto, doente e aleijado. Quando descobriu o adultério, Hefesto forjou uma rede muito fina, quase invisível mas inexplicavelmente forte e que jamais poderia ser rompida. Soltando a rede sobre os amantes, Hefesto chamou os deuses para testemunharem esse adultério. O fato não abalou a paixão de ambos que tiveram uma filha, Harmonia, aquela que estabelece uma ligação equilibrada entre o amor e a paixão.

Marte e Vênus surpreendidos por Vulcano os equivalentes romanos de Ares e Afrodite e Hefesto respectivamente.
Pintura de Alexandre Charles Guillemot, 1827, Indianapolis Museum of Art. 

No nível psicológico Ares simboliza os instintos agressivos conscientes. Os cavalos que seguem direções opostas são os conflitos internos e desarmônicos, que precisam ser trabalhados, mas não reprimidos e esquecidos. Ares é o deus sem pai, o que significaria que não recebeu de um pai arquetípico o espírito da ética, mas ainda conta com vontade e força para sobrevivência no mundo competitivo.


No tarot, a carta O Carro, mostra Ares segurando com firmeza as rédeas de um cavalo branco e um preto que seguem em direções opostas, refletindo potenciais do bem e do mal contidos no instinto agressivo.

Descrevo aqui sucintamente uma carta que de alguma forma se relaciona com as artes marciais: "O Carro", no sentido de lidar com a ideia de conflito.

Ares é a figura que se encontra na carta "O Carro" no Tarot simbolizando a escolha entre os ímpetos naturais e muitos vezes violentos que abrigamos dentro de nós. É através dessa escolha que se alcança a maturidade de responder pelos atos e suas consequências na vida adulta, mesmo que isso signifique enfrentar a ira e conflito que foram invocados interna e externamente. Essa carta representa portanto nosso trabalho interno de lidar com forças opostas dentro de nós, mas que nos levam a um crescimento e fortalecimento de nossa personalidade, levando a uma harmonia em meio a nossas próprias contradições, levando-nos a uma nova etapa em nossa jornada.

Assim, chame-se de do, jornada ou caminho, cabe a cada um de nós descobrir dentro de nós mesmos, por diferentes estratégias, um sentido e significado nos acontecimentos de nossas vidas, ainda que dolorosos, pois esse é o impulso de nossa evolução pessoal.

fonte: O Tarot Mitológico (Liz Greene e Juliet Sharman-Burke, Ed. Siciliano)

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