5.11.15

"Funciona" porque é divertido

Quem nunca?


Hoje estava passeando com minha cachorra e vi esse aparelho de ginástica quase expulso de uma casa, num cantinho da garagem. Me lembrei de quando, lá pelos meus vinte e poucos anos, querendo entrar em forma comprei uma máquina de remo. A animação durou umas duas semanas. A disciplina pouco mais de um mês e no final acabei vendendo para um amigo.
Quem nunca?

Porque será que essas máquinas são tão pouco usadas ou as salas de ginásticas de tantos condomínios são tão pouco frequentadas? Meu palpite é de que é muito chato. Mas isso é apenas um julgamento da minha parte.

Objetivamente falando, é muito difícil manter a relação corpo/mente integrada quando fazemos exercícios nessas máquinas. Por serem extremamente repetitivos a mente se entedia e busca outro lugar para vagar, fora do corpo. Pode ser no aparelho de televisão mais próximo, na revista apoiada no console da esteira de correr, na lista do Spotify que flui pelos fones de ouvido...

Sim, nos especializamos em combater o tédio ocupando nossas mentes com algum tipo de atividade, geralmente dissociado da atividade física. Assim o corpo fica ali abandonado da consciência, se contraindo no vácuo da presença mental, correndo o risco de ser mal exercitado e ... lesionado.

Fazer alguma prática corporal com a cabeça em outro lugar além de trazer resultados físicos em tempo muito maior (comentário para aqueles que têm pressa), colabora com a dissociação dessa relação tão preciosa corpo/mente que é responsável pelo sentimento de serenidade e bem estar que tanto buscamos.

Na época em que comprei a minha máquina de remo eu ainda não havia descoberto o Aikido e ainda vivia os paradigmas da musculação de um corpo ausente. O Aikido Corpo-Ki, como meditação em movimento oferece uma oportunidade de integração dessa relação e é por isso que "funciona" *.

Atualmente tantos falam em meditação, e imaginam-se sentados, de olhos semi-cerrados numa grande quietude. Essa é a meditação clássica. Mas existem outras possibilidades, como no caso do Aikido Corpo-Ki no sentido do indivíduo estar completamente imerso na atividade física. Nem a mente nem o corpo no Aikido Corpo-Ki executam tarefas repetitivas: estão ambos profundamente conectados na realização dos movimentos e nas trocas energéticas que se estabelecem durante o treino. Embora aparentemente os movimentos se repitam, a relação com o outro nos coloca numa situação diferente a cada minuto durante a qual é impossível manter-nos no treino de forma ausente e automática (bem... é possível, mas isso é o que leva aos acidentes no tatame).

Essa relação que estabelecemos, de contato com o outro, além de nos manter alerta é extremamente divertida. Por causa do profundo respeito ao espírito de harmonia que cultivamos no Tatamito,  esse contato torna-se um desafio agradável, ainda que desafio. Cada pessoa com quem treinamos tem um ritmo, um estado de flexibilidade, um peso, uma disposição diferente que nos mantém em constante estado de consciência sobre a realidade presente: do que acontece conosco e com o outro.

Coisa bacana que é ver os sorrisos nos rostos dos alunos ao fim de um treino. E no meu também. E é por isso que "funciona"!

cultivando o alto astral ;)

*Afinal de contas o que é "funcionar"? Seria atingir a forma física perfeita? Isso é um conceito tão relativo. A palavra entre aspas é para ressaltar que talvez não devamos nos preocupar tanto com a utilidade imediata de uma atividade física, mas nos focarmos no prazer que ela nos proporciona e assim, efetivamente, caminharmos em direção a um bem estar global. Funcionar seria melhor compreendido como viver com saúde.